José Pacheco Pereira (JPP) é uma figura de referência da opinião publicada portuguesa. Tal como foi um pioneiro do mundo dos blogs. Tal como percebeu bem cedo o advento do PC, do mundo virtual, e a sua relação com a realidade.
JPP tem opinião sobre, bom – sobre tudo. E porquê? Eu, que o leio há alguns anos a esta parte – e continuarei a ler, por o achar erudito, mesmo brilhante a espaços – diria que, em todas as suas análises existe, subjacente, uma “Teoria do Tudo”. Explico-me. Desde a Teoria da Relatividade de Einstein que surgiu um problema da Física: a conciliação desses pressupostos com a Teoria Quântica. Acontece que, ambas comprovadas pela experiência, são incompatíveis no limite. O próprio Einstein acabou os seus últimos anos intrigado com este paradoxo. De algumas décadas a esta parte que a descoberta da “Teoria do Tudo”, que unifica Teoria da Relatividade e Teoria Quântica, é o Santo Graal da comunidade física.
Partindo desta analogia, permito-me dizer que existe, nas análises que faz Pachaco Pereira, uma certa “Teoria do Tudo” subjacente. Quer dizer, tudo para ele bate certo, faz sentido. Todo e qualquer fenómeno. E quem o lê sabe-o a atento a todas as minudências da vida comum, igualmente que a Política, a Arte, mesmo a Ciência. Eu diria que, no seu papel de intelectual, JPP parte de uma matriz explicativa que vai desde o átomo, a célula, até ao espaço, passando pela natureza humana e como a limita, contorna e aproveita a Civilização (Ocidental, nomeadamente). Estou certo de que JPP conheceu e se lembra de alguns portugueses de um Portugal que para nós é hoje só miragem. De um Portugal de outros homens, de outras fés, de outras vidas. Somos pobres herdeiros de alguns desses antepassados.
Repare-se na afinidade que JPP professa com Sá de Miranda, autor da célebre estrofe:
"Homem de um só parecer,
dum só rosto e d'ua fé,
d'antes quebrar que volver
outra cousa pode ser
mas da corte homem não é"
JPP configura-se, em parte pelo menos, como o continuador de homens como Sá de Miranda. É dele a memória, e também a obsessão com a memória, o registo dos eventos e das vivências. Daí também a sua filiação nos formatos que servem de suporte à memória: o papel, o PC, o vídeo, a fotografia. Daí o seu interesse com o registo da vida. Porque sabe que, a dado momento, todos nós olhamos para trás. Corso, ricorso.
Confesso que aprendi muito ao ler JPP. Por isso o continuarei a ler sempre. Além de que foi o único verdadeiro “erudito”, o único “mestre” a que tive acesso nos “meus tempos”. A ubiquidade do medíocre surpreendeu-me como eu nunca pensara antes. Daí o meu elogio, que eu não preciso que alguém morra para o elogiar.
Retomo o que disse antes – JPP é brilhante a espaços, e um corredor de resistência a que poucos dão valor. Se usar uma metáfora futebolística (e falta-lhe perceber o quão humano é também o futebol), JPP é o verdadeiro “trinco”. Ele é douto, extremamente douto, em natureza humana. E, como tal, não se perde em tentações de ataque. Sabe que são todas repetições de um tema. Mas percebe o quão importante é o ataque. E, como tal, assume o papel de trinco. Deixa que os outros, lá à frente, ataquem à vontade, troquem a bola, soltem o virtuosismo. Ele fica como último homem – ele sabe que, apesar de tudo, nas equipas à retranca, um contra-ataque canalha pode ser fatal. Um contra-ataque que é uma ofensa para o virtuosismo dos que estão lá na frente a dar toda a sua alma ao jogo. E ele, seguro na sua posição, pode tocar pouco na bola durante o jogo. Mas garante que a equipa contrária não tenha sucesso nesses contra-ataques canalhas e cínicos. Faz parte de uma equipa completa, JPP, de uma equipa portuguesa – grandes jogadores, que dão tudo em equipa. O problema é sempre o mesmo, é eterno – convencer essas individualidades a jogar em equipa.