domingo, novembro 11, 2007

Lágrima de Preta

Às vezes tenho saudades do Portugal de Rómulo de Carvalho. Ah, não podia mais ser, foi um tempo que passou... Tivesse eu tido um professor assim (depois do secundário). Se ser português é ter inveja de algo, eis a minha, talvez uma versão menos comum: a falta absoluta de um grande "mestre".

Lágrima de Preta

Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

(António Gedeão)