Ontem, no metro, no local de sempre: a máquina de tirar bilhetes (mas porque raio abdiquei eu do meu cartao Lisboa pela promessa de conduçao?). Aborda-me um rapaz. Magro, todo ele vestindo um castanho coçado. Olho-o somente de soslaio, o suficiente para detectar más vibraçoes. Nem sequer o deixo dizer-me a primeira palavra. Em silêncio, indico-lhe a palma da mao, que por mim fala: "O que quer que seja, nao obrigado". Desarmado ao primeiro movimento. Fiquei surpreendido com a minha reacçao (outra vez, já aqui contei da primeira surpresa), nao porque tenha sido abrupta e assertiva como da outra vez. Fui mesmo altivo, desprezei-o dos pés à cabeça. Realmente, a (sobre)vivência desperta em nós atitutes muito inusitadas. Ele também ficou estupefacto com tao súbita altivez, mas que quer ele? Esta gente que se ocupa nas lacunas escuras da sociedade, reptiliniamente chateando quem está cansado, a isso se sujeita. Sei que ele ainda murmurou qualquer coisa do género "nao é nada disso". Sinceramente, nao tenho a mínima dúvida das suas intençoes, e estou-me borrifando para aquilo que lhe ficou por dizer. Desta vez, meu caro, ganhei eu.
Sigo entao em frente, para comprar o jornal, retomando o caminho que ele interrompeu.
Volto à malograda máquina, agora sim para comprar um bilhete Quando o faço, dirige-se a mim uma rapariga. Estou ocupado a recolher o dinheiro, nao a distingo claramente. Percebo que tem um certo ar latino pouco português (será cigana?, romena?). Naquela situaçao, nao hesito também. A palma da mao exibe-se logo como escudo, sem sequer contacto visual. Mas nao. Parece que, realmente nao era nada disso. Afinal ela é brasileira, afinal até está vestida decentemente, afinal queria somente saber qual a linha para ir para o Campo Pequeno. Hesito um pouco, pergunto-me se estarei a ser ludibriado, perdido na surpresa nao consigo pensar. "Amarela. Pode ir pela linha amarela. Entrecampos e logo Campo Pequeno". E lá foi ela. Bom, e desta vez perdi. Raios.
Eis, pois, o problema da altivez e da atitute proactiva. Será que eu conseguirei um dia que quem quer que seja leia, quando eu passo: "É favor nao abordar. Rapaz contemplativo. Natureza nervosa. Natureza ainda mais nervoso face à lata desconcertante de filhos-da-p... gandulas. Possibilidade de cometer injustiças com pessoas simples. Obrigado pela compreensao"?
Sigo entao em frente, para comprar o jornal, retomando o caminho que ele interrompeu.
Volto à malograda máquina, agora sim para comprar um bilhete Quando o faço, dirige-se a mim uma rapariga. Estou ocupado a recolher o dinheiro, nao a distingo claramente. Percebo que tem um certo ar latino pouco português (será cigana?, romena?). Naquela situaçao, nao hesito também. A palma da mao exibe-se logo como escudo, sem sequer contacto visual. Mas nao. Parece que, realmente nao era nada disso. Afinal ela é brasileira, afinal até está vestida decentemente, afinal queria somente saber qual a linha para ir para o Campo Pequeno. Hesito um pouco, pergunto-me se estarei a ser ludibriado, perdido na surpresa nao consigo pensar. "Amarela. Pode ir pela linha amarela. Entrecampos e logo Campo Pequeno". E lá foi ela. Bom, e desta vez perdi. Raios.
Eis, pois, o problema da altivez e da atitute proactiva. Será que eu conseguirei um dia que quem quer que seja leia, quando eu passo: "É favor nao abordar. Rapaz contemplativo. Natureza nervosa. Natureza ainda mais nervoso face à lata desconcertante de filhos-da-p... gandulas. Possibilidade de cometer injustiças com pessoas simples. Obrigado pela compreensao"?