Tenho para mim que grande parte daquilo a que se chama Civilizaçao (Ocidental) tem justamente que ver com a Mulher, com o papel e liberdade da Mulher em sociedade. E, depois, claro, com aquilo que é o Homem em funçao da Mulher.
Talvez resíduo de uma educaçao católica, eu tinha em novo um respeito profundo e distante pela Mulher. Porque desde logo tinha respeito pelo sofrimento, sempre tive, e tinha para mim que eram as mulheres quem mais tinha sofrido ao longo da História. Vínhamos de um outro país, paternalista e rural, salazarista, onde as mulheres eram tantas vezes obrigadas à submissao e passividade. Elas eram maes, irmas, avós. Resistentes e abnegadas. Nunca caprichosas.
Mas os tempos revelaram-se-me com prontidao e de forma abrupta. Sobretudo porque eu era, antes de mais, pouco vivido. Lembro-me do grande choque, ao sair do meu colégio, de descobrir a canalhice no feminino. Nao que a natureza humana no meu colégio fosse diferente, mas a classe social e a vergonha colectiva criavam um certo padrao de comportamento. No dia em que ouvi uma rapariga dizer "este fim-de-semana comi um gajo" a minha surpresa foi total. Nao com a indulgência em si, o prazer sexual (sou todo a favor), mas antes da forma orgulhosa e aviltante com que era feito o anúncio, e, claro, com o anúncio em si. Será honestidade e espontaneidade da parte dela? Talvez eu goste de um pouco de recato nessas questoes.
A vida tem-me vindo a surpreender todos os dias. Nunca pensei que houvesse tantas raparigas agressivas, indulgentes, alheias à sua própria dignidade feminina. Aí, devo fazer a justiça, o meu colégio estava bem acima da média.
O erro era meu, portanto. E seria outro erro pior pensar que só dessas raparigas é feito o mundo. Muito pelo contrário. Continuam a existir muitas raparigas belíssimas, sensíveis e de pacata inteligência e dignidade. Daquelas em que os olhos sao mais intensos que qualquer forma corpórea. Há céus a que nenhum diabo infernal consegue aceder.
Mas bom, voltando ao inferno, ou ao limbo da indefiniçao juvenil, nao há reverência, apesar do parágrafo acima, que resista à vivência do mundo. Que fazer? As mulheres, antes de mulheres, sao humanas. E, quando jovens, passíveis de toda a nobreza ou de toda a crueldade de juventude. Podem ser doces, sensíveis, apaixonadas. Podem ser também indulgentes, cínicas e agressivas. Podem também elas "caçar", mais do que ser a presa. Podem pactuar com injustiças e indignidades. E podem desprezar violentamente, como os homens, qualquer alma sensível, masculina ou feminina.
Assim, mulheres e homens, jogamos o jogo da vida. Somos inseguros, egoístas, egotistas, descobridores e amantes. E, se um amigo meu estiver certo, Deus faz erros aos pares. Esperemos que, na dança das cadeiras, quando a música parar, os erros estejam, por mistério da natureza, lado a lado como no plano original.
Alea jacta est.
Talvez resíduo de uma educaçao católica, eu tinha em novo um respeito profundo e distante pela Mulher. Porque desde logo tinha respeito pelo sofrimento, sempre tive, e tinha para mim que eram as mulheres quem mais tinha sofrido ao longo da História. Vínhamos de um outro país, paternalista e rural, salazarista, onde as mulheres eram tantas vezes obrigadas à submissao e passividade. Elas eram maes, irmas, avós. Resistentes e abnegadas. Nunca caprichosas.
Mas os tempos revelaram-se-me com prontidao e de forma abrupta. Sobretudo porque eu era, antes de mais, pouco vivido. Lembro-me do grande choque, ao sair do meu colégio, de descobrir a canalhice no feminino. Nao que a natureza humana no meu colégio fosse diferente, mas a classe social e a vergonha colectiva criavam um certo padrao de comportamento. No dia em que ouvi uma rapariga dizer "este fim-de-semana comi um gajo" a minha surpresa foi total. Nao com a indulgência em si, o prazer sexual (sou todo a favor), mas antes da forma orgulhosa e aviltante com que era feito o anúncio, e, claro, com o anúncio em si. Será honestidade e espontaneidade da parte dela? Talvez eu goste de um pouco de recato nessas questoes.
A vida tem-me vindo a surpreender todos os dias. Nunca pensei que houvesse tantas raparigas agressivas, indulgentes, alheias à sua própria dignidade feminina. Aí, devo fazer a justiça, o meu colégio estava bem acima da média.
O erro era meu, portanto. E seria outro erro pior pensar que só dessas raparigas é feito o mundo. Muito pelo contrário. Continuam a existir muitas raparigas belíssimas, sensíveis e de pacata inteligência e dignidade. Daquelas em que os olhos sao mais intensos que qualquer forma corpórea. Há céus a que nenhum diabo infernal consegue aceder.
Mas bom, voltando ao inferno, ou ao limbo da indefiniçao juvenil, nao há reverência, apesar do parágrafo acima, que resista à vivência do mundo. Que fazer? As mulheres, antes de mulheres, sao humanas. E, quando jovens, passíveis de toda a nobreza ou de toda a crueldade de juventude. Podem ser doces, sensíveis, apaixonadas. Podem ser também indulgentes, cínicas e agressivas. Podem também elas "caçar", mais do que ser a presa. Podem pactuar com injustiças e indignidades. E podem desprezar violentamente, como os homens, qualquer alma sensível, masculina ou feminina.
Assim, mulheres e homens, jogamos o jogo da vida. Somos inseguros, egoístas, egotistas, descobridores e amantes. E, se um amigo meu estiver certo, Deus faz erros aos pares. Esperemos que, na dança das cadeiras, quando a música parar, os erros estejam, por mistério da natureza, lado a lado como no plano original.
Alea jacta est.