António fazia rimar estilo com esquilo. Era um roedor garboso, direito, altivo, embora algo sorumbático, metido consigo mesmo.
Saltava de ramo em ramo com grande agilidade, e técnica perfeita, de capricho estético. Muitos admiravam essa agilidade, secretamente a invejavam. António devia estar consciente dessa admiração, mas talvez por isso mesmo não se misturava de igual forma com o resto dos esquilos. Permanecia altivo, isolado, artisticamente subindo pelos mais finos ramos.
Alguns esquilos atribuíam essa distância ao facto de ser afortunado, no que respeitava ao acasalamento roedor. Havia-se recentemente juntado com a magnífica Cora Esquila, a esquila de pêlo mais luzidio daquele bosque e arredores. "É um esquilo regalado", diziam entre si, em confissão. A muitos tinha Cora desfeito o pequeno coração de esquilo, e era para eles estranho vê-la com António, por mais que António fosse dos poucos a conseguir, não só nozes, mas também os frutos das árvores em que os havia.
Caía mal, no entanto, com o resto dos esquilos, aquela altivez. Porque parecia ainda mais desnecessária, considerando a benção - assim pensavam de Cora Esquila - que tinha conseguido. Para mais, era frequente ouvir António sussurrar, enquanto beliscava uma noz, um "otário..." ou "paravalhão" a um amador esquilo que se aventurava, sem sucesso, por um ramo mais fino.
Os outros esquilos não gostavam de ouvir isso, e trocavam entre si, justamente, essa descontentamento, nas tardes que passavam pela taberna do velho Marmota. Por vezes, a cerveja ajudava a aparecer mais lesto o azedume, e com ele uma maldição: "Diz que não come insectos, nem nozes caídas, só as nozes maduras e melhores frutos. Pois ainda um dia há-de cá vir pedir insectos, ou nozes para o Inverno, que a gente nesse dia diz-lhe como é que é".
Tudo isto o velho Marmota ouvia e guardava consigo em silêncio. Por vezes, enquanto estava recolhido a hibernar no Inverno, punha-se a pensar nestes ressentimentos, e como podiam os simples esquilos encontrar, no meio da placidez daquele bosque, tais rixas.
Saltava de ramo em ramo com grande agilidade, e técnica perfeita, de capricho estético. Muitos admiravam essa agilidade, secretamente a invejavam. António devia estar consciente dessa admiração, mas talvez por isso mesmo não se misturava de igual forma com o resto dos esquilos. Permanecia altivo, isolado, artisticamente subindo pelos mais finos ramos.
Alguns esquilos atribuíam essa distância ao facto de ser afortunado, no que respeitava ao acasalamento roedor. Havia-se recentemente juntado com a magnífica Cora Esquila, a esquila de pêlo mais luzidio daquele bosque e arredores. "É um esquilo regalado", diziam entre si, em confissão. A muitos tinha Cora desfeito o pequeno coração de esquilo, e era para eles estranho vê-la com António, por mais que António fosse dos poucos a conseguir, não só nozes, mas também os frutos das árvores em que os havia.
Caía mal, no entanto, com o resto dos esquilos, aquela altivez. Porque parecia ainda mais desnecessária, considerando a benção - assim pensavam de Cora Esquila - que tinha conseguido. Para mais, era frequente ouvir António sussurrar, enquanto beliscava uma noz, um "otário..." ou "paravalhão" a um amador esquilo que se aventurava, sem sucesso, por um ramo mais fino.
Os outros esquilos não gostavam de ouvir isso, e trocavam entre si, justamente, essa descontentamento, nas tardes que passavam pela taberna do velho Marmota. Por vezes, a cerveja ajudava a aparecer mais lesto o azedume, e com ele uma maldição: "Diz que não come insectos, nem nozes caídas, só as nozes maduras e melhores frutos. Pois ainda um dia há-de cá vir pedir insectos, ou nozes para o Inverno, que a gente nesse dia diz-lhe como é que é".
Tudo isto o velho Marmota ouvia e guardava consigo em silêncio. Por vezes, enquanto estava recolhido a hibernar no Inverno, punha-se a pensar nestes ressentimentos, e como podiam os simples esquilos encontrar, no meio da placidez daquele bosque, tais rixas.