Júlio Pata Negra descendia de uma grande linhagem de orgulhosos suínos. Tinham sido eles, os Pata Negra, com o seu esforço, a montar o negócio de restauração de toda aquela zona. Lembrava-se de tantas tardes de convívio... E era isso que mais o magoava, ver tudo assim desmoronar-se sem razão. Mas os negócios andavam mal, e Júlio assinou os papéis à sua frente. Fumou depois uma cigarrilha, e pensou no quanto a vida tinha mudado, desde os seus tempos de leitão, no quintal perto daquele escritório, guinchando com felicidade em frente à antiga fábrica.
'Não, os tempos mudaram muito'. Repetiu. 'E preciso ter em atenção a minha saúde. Já não sou o porco viçoso de outros tempos... Hoje estou aqui, amanhã posso apanhar o lagartão ou a peste, e ir desta para melhor. Não, é preciso ter uma perspectiva das coisas.'
Júlio Pata Negra levantou-se e foi vestir o seu casaco. Passou pela porta, olhou algumas vezes para a grande sala de refeições, escura, vazia, com os quadros familiares silenciosos, criticando-o. Prosseguiu então para a garagem, desligou o alarme do seu carro, e entrou.
Na viagem a caminho de casa, repassou a sua vida. Os casamentos, as escapadelas, as viagens, os sabores. 'Foi extraordinário', pensou. Pena que tudo acabe assim, a mulher e os filhos deixando-o nesta altura. Pensou nos seus antigos amores, apetecia-lhe falar com alguém. De súbito, um nome acorre à mente, o de uma namorada de juventude, com a memória de uma relação excessiva, que não resultaria em nada. Mas Júlio, quanto mais pensava nela, mais a queria nos seus braços. E então, se bem que estivesse sozinho, disse alto que iria falar de novo com ela. Prometeu-o a si mesmo, iria procurá-la - e iria juntar-se com ela. 'Miséria: serás a última porca que amarei na vida.'
Júlio Pata Negra levantou-se e foi vestir o seu casaco. Passou pela porta, olhou algumas vezes para a grande sala de refeições, escura, vazia, com os quadros familiares silenciosos, criticando-o. Prosseguiu então para a garagem, desligou o alarme do seu carro, e entrou.
Na viagem a caminho de casa, repassou a sua vida. Os casamentos, as escapadelas, as viagens, os sabores. 'Foi extraordinário', pensou. Pena que tudo acabe assim, a mulher e os filhos deixando-o nesta altura. Pensou nos seus antigos amores, apetecia-lhe falar com alguém. De súbito, um nome acorre à mente, o de uma namorada de juventude, com a memória de uma relação excessiva, que não resultaria em nada. Mas Júlio, quanto mais pensava nela, mais a queria nos seus braços. E então, se bem que estivesse sozinho, disse alto que iria falar de novo com ela. Prometeu-o a si mesmo, iria procurá-la - e iria juntar-se com ela. 'Miséria: serás a última porca que amarei na vida.'