domingo, novembro 02, 2008

Mestre Cardoso

Eu tenho um simpatia especial por Miguel Esteves Cardoso, aka MEC. Porque eu sempre tive esse respeito pela criatividade. E pela inteligência. Deve ter sido um gajo porreiro, o MEC, nos seus tempos.

Leio a entrevista que deu à Sábado. Caramba. Até com os seus excessos simpatizo. Ou com a sua honestidade ao falar deles, talvez mais. Mesmo que nao o acompanhe em todos. Mas tenho os meus. A verdade é sempre um valor, porque custa. E se nao cutasse nao seria um valor. A mentira é a regra, a norma. Muito raramente é a mentira um valor - na excepção de proteger alguém ou algo, pouco mais. Regra geral, é usada para auto-protecçao, e por isso nada vale. A verdade, em oposiçao, nem a nós próprios poupa.

E depois tem frases que eu próprio disse na minha vida. Do nada. Temo bem que a vida possa dar voltas e eu as nao possa cumprir - mas eu disse-as um dia, sim. Disse algo como: 'Eu acredito que há pessoas que sao felizes com pouco. Um pescador com o seu barco de pesca, numa ilha, com a sua família, pode ser feliz, nao precisa de um Cadillac. (...) Agora sou pobre, vivo com pouco.' Ou isto, que se o nao disse ainda, certamente que digo, e penso, que fui, sou ou serei: 'Ganhei muito dinheiro, mas também gastava muito (...) Portanto, nao tinha mais dinheiro do que agora. Quanto mais precisas para viver, mais tens que trabalhar e menos tempo tens para ti. O maior dos luxos é o tempo. O tempo é o meu maior património.' Nem mais.

E depois acaba a entrevista afirmando: 'Eu já fiz o que tinha a fazer. Em novo tinha o máximo de graça que pude. Fiz programas de rádio, um jornal, uma revista, teatro, publicidade, televisão. Hoje tenho 53 anos e uma ansiedade quase adolescente de entrar na idade sábia. Estou como se tivesse entrado na 4ª classe da velhice. A minha ambiçao é ser um sábio e de facto eu sou um gajo que sabe. Quero chegar aos 75 anos e saber tudo. Continuo a brincar, a brincadeira não tem idade. Mas agora quero brincar com coisas mais sérias.'

E eu, que tanto tempo procurei pessoas sábias, que tinha a maturidade de as reconhecer, sem ter avistado muitos desses 'portugueses sábios' na minha formaçao (puro azar, realmente), tenho que conceder a MEC, pela sua obra, e criatividade, esse título.

Que tenha uma longa, sadia e feliz vida, mestre Cardoso.