quarta-feira, junho 18, 2008

A Rainha Vai Nua

Há coisas sobre as mulheres que só elas ousam dizer numa conversa entre sexos. E às vezes também, só elas ousam pensar.

Falava no outro dia com uma amiga sobre uma mulher com tiques de personalidade muito difíceis de digerir. Solteirona, e com a idade avançada, sob o espectro do não-retorno. E encontrando noutros aspectos da vida o "surrogate" para não ser mãe. Mas, por muito que andem à volta da coisa, há poucas maneiras de substituir o que é natural - e isso nota-se. Foi a minha amiga que saltou a conversa para um comentário clássico - entre conversas masculinas. "Ela tem é falta de homem". Vindo dela, soou desconcertante - mas também estranhamente libertador.

A mesma amiga critica-me alguns dias mais tarde por eu ser tacitamente contra esse hábito de pintar as unhas. Pois é. Pois sou. Quem é que falou aí em Salazar? Calma. Mas qual bota-de-elástico?... Então não posso não gostar de ver mulheres com unhas de cores berrantes - e às vezes num trabalho tão imperfeito que realmente só pode prejudicá-las? Não é que eu não goste de mulheres com unhas pintadas. Nada tenho contra cores suaves, de todo. Custa-me, sim, ver o encanto de certos vermelhos e pretos. Para não recorrer ao náuseo roxo. Pergunto-me muitas vezes se eu próprio tenho legitimidade para criticar. Raramente o faço. Acontece somente que tendo a gostar mais de mulheres que não pintam as unhas - e é só isso. Como se existissem mulheres óbvias para homens óbvios, e mulheres discretas para homens discretos. Não vamos meter tudo no mesmo saco.

De qualquer forma, e retomando a tese inicial, eis que a minha amiga me acusa, a certa altura de conotar o pintar as unhas com as "mulheres da vida". Tão repugnante me pareceu a associação - dado o banal que é o enfeite em si - que fiquei novamente surpreso. Não faço, de modo nenhum essa violenta correlação. Como expliquei acima, as minhas razões são originais. Agora, divirto-me em reparar como, mais que um preconceito da minha parte, existe um preconceito contra a minha posição. Isto é, não se pode ser contra, sem ser conotado com essa razão. Vêem como as coisas às vezes são, curiosamente, tão circulares? Mais que praticar o preconceito, sou eu vítima dele! E, só para esclarecer as coisas, quando eu acima falo de mulheres "óbvias" - da mesma forma que falo de homens "óbvios" - refiro-me a um conceito de normalidade, muito mais amplo que esse bas-fond.

Mas eis de novo o tipo de comentário que eu, creio, nunca puxaria para a conversa com ela. E, provavelmente, nem sequer entre homens o faria.