Ele não torcia tanto por Portugal, a não ser quando a equipa ganhava. Antes fazia gala da sua equipa ser a Itália. Esguio, fino como quem passa pela estupidez alheia, os olhos azuis, grandes e vivos - como todo ele fosse olhos - não alimentava conversas fátuas, e ao balcão daquele café pedia, naturalmente, uma "bica curta". Com o obséquio de o fazer em português, porquanto não soubesse italiano. Mas era fluente no estilo, e isso bastava. Assim andava, esgueirando-se pelos dias estúpidos dos outros, vivendo talvez confortavelmente de um subsídio de desemprego, bebendo café, e torcendo pela "sua" Itália, esquecendo a ingrata gravitas da vida, que o prendia àquela árida terra a que os outros portugueses chamavam de "Odivelas".