Foi ainda esta semana. Tinha apenas regressado a Lisboa, começado a revisitar de rotinas. Levantar mais cedo, comprar bilhete de metro, almoçar no café, e ter a inteligência ofendida ao comprar o bilhete de volta. Sim, eu sei que fui eu que me meti na parte de trás das máquinas, mais resguardada, ao jeito deles. Apeteceu-me. "É que falta-me dinheiro para o bilhete, se não te importasses...". Depois do meu sermão, o desabafo ao calor (andara um belo esticão ao sol), já era "ando na metadona". 70 cêntimos. Só não recusei em absoluto porque seria também soberba. Também não trabalho ainda, não faço dinheiro, não tenho a legitimidade completa. Hoje era o tal dia cada 2 meses em que eu pagava alguma soberba. Tiveste sorte. "Desculpa lá". "Não tenho nada a desculpar. O problema é teu". Voltei as costas, subi para o metro.
Compromisso: sermão até ele torcer por vergonha, mas 70 cêntimos consentidos. Estou-me nas tintas para os 70 cêntimos, honestamente. Vejo alguns que desperdiçam dinheiro em hedonismos que eu não acompanho, e me vêm pregar "questão de princípio". É a sua puxada à Presidente dos EUA. Em vez de "este país não negoceia com terroristas", é "não se dá dinheiro a essa gente". A solenidade é a mesma. Ficam todos satisfeitos pela sua rigidez contra-intuitiva, com a SWAT ou os trocos ali à mão para provar a sabedoria.
Mais bem é falta de coração digo eu. Não são 70 cêntimos a quem está perdido que me compram um lugar no céu, é certo. Mas também não sei dizer que não todos os dias. Algures no meu sistema de débitos e créditos, um funcionário do Tesouro manda a mensagem para a "mainframe": "tudo bem, o sistema está carregado, suporta a perda." E o secretário de estado da Trouxice (que felizmente pouco faz neste Governo) assina o despacho. Vai à Assembleia. O líder da oposição, que tem o pelouro da Mesquinhice corrige: "tudo bem, desta passa. Mas só 70 cêntimos".
O princípio que mais me terá chateado foi o de orgulho ferido, talvez. Aquele "toni" nem sequer se perguntou, não disse a si mesmo "não, este está a jeito, mas é inteligente demais para a coisa... Não dá mesmo." É certo que há a sede estúpida de prazer, mas caramba: saibam escolher os vossos otários s.f.f.. Como é que é? Não, não soube, acreditem. Aqueles 70 cêntimos foram o esforço de um dia. "Então como é que foi o teu dia a pedinchar humilhantemente no metro, querido?". "Ehh..., não me digas nada mulher [descalça os sapatos]. Apanhei um gajo que devia voltar cansado ou qualquer coisa, para me dar 70 cêntimos parece que tinha morto alguém, ó caraças. E ainda disse que tinha tido sorte. Decidi que por hoje chegava, era mau dia". "É assim, Nico, já se sabe... Há aí gente sem educação nenhuma".
De futuro exijo, como cliente pagante (de 70 cêtimos cada 2 meses), variedade. Não chega sempre a mesma frase repetida por todos. Já sei que "a velha" está no hospital, coitada. E que "falta só X para o bilhete", que coincidência. Já terei algumas saudades do "para comer"... Da próxima quero algo como "estou com uma granda fezada que é desta que ganho o Euromilhões", "preciso de mais moedas para estacionar a nave espacial. Aqueles gajos da EMEL são lixados", "pretendo fazer uma Lisboa em miniatura com moedas de 50 cêntimos", ou mesmo "é que tenho ali uma miúda... sabes como é. Precisava de uma moeda pra fazermos à sorte quem fica por cima".
Compromisso: sermão até ele torcer por vergonha, mas 70 cêntimos consentidos. Estou-me nas tintas para os 70 cêntimos, honestamente. Vejo alguns que desperdiçam dinheiro em hedonismos que eu não acompanho, e me vêm pregar "questão de princípio". É a sua puxada à Presidente dos EUA. Em vez de "este país não negoceia com terroristas", é "não se dá dinheiro a essa gente". A solenidade é a mesma. Ficam todos satisfeitos pela sua rigidez contra-intuitiva, com a SWAT ou os trocos ali à mão para provar a sabedoria.
Mais bem é falta de coração digo eu. Não são 70 cêntimos a quem está perdido que me compram um lugar no céu, é certo. Mas também não sei dizer que não todos os dias. Algures no meu sistema de débitos e créditos, um funcionário do Tesouro manda a mensagem para a "mainframe": "tudo bem, o sistema está carregado, suporta a perda." E o secretário de estado da Trouxice (que felizmente pouco faz neste Governo) assina o despacho. Vai à Assembleia. O líder da oposição, que tem o pelouro da Mesquinhice corrige: "tudo bem, desta passa. Mas só 70 cêntimos".
O princípio que mais me terá chateado foi o de orgulho ferido, talvez. Aquele "toni" nem sequer se perguntou, não disse a si mesmo "não, este está a jeito, mas é inteligente demais para a coisa... Não dá mesmo." É certo que há a sede estúpida de prazer, mas caramba: saibam escolher os vossos otários s.f.f.. Como é que é? Não, não soube, acreditem. Aqueles 70 cêntimos foram o esforço de um dia. "Então como é que foi o teu dia a pedinchar humilhantemente no metro, querido?". "Ehh..., não me digas nada mulher [descalça os sapatos]. Apanhei um gajo que devia voltar cansado ou qualquer coisa, para me dar 70 cêntimos parece que tinha morto alguém, ó caraças. E ainda disse que tinha tido sorte. Decidi que por hoje chegava, era mau dia". "É assim, Nico, já se sabe... Há aí gente sem educação nenhuma".
De futuro exijo, como cliente pagante (de 70 cêtimos cada 2 meses), variedade. Não chega sempre a mesma frase repetida por todos. Já sei que "a velha" está no hospital, coitada. E que "falta só X para o bilhete", que coincidência. Já terei algumas saudades do "para comer"... Da próxima quero algo como "estou com uma granda fezada que é desta que ganho o Euromilhões", "preciso de mais moedas para estacionar a nave espacial. Aqueles gajos da EMEL são lixados", "pretendo fazer uma Lisboa em miniatura com moedas de 50 cêntimos", ou mesmo "é que tenho ali uma miúda... sabes como é. Precisava de uma moeda pra fazermos à sorte quem fica por cima".