sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Arcaica Força Centrípeta

A propósito da música que faz o último, brilhante, post do Edu neste blog, leio no comentário do utlizador que o colocou no YouTube:

"It's about different generations in Quebec and what kind of life possibilities they had. I suppose it could apply to anywhere but the transition in Quebec from Catholic backwater to liberal modernity was particularly quick and harsh".

Não posso deixar de me rir interiormente. Faz lembrar outro país que a gente sabe, não?

Cruzo o pensamento com o Rio das Flores, de Miguel Sousa Tavares. Tenho constatado que, ao longo dos meus tempos, a maior parte das pessoas não é capaz de perceber essa obsessão telúrica, quase vertigem, dos seus avós. Mesmo os que ainda conheceram os avós do campo. É certo que o país era atrasado, e é certo que para muitas pessoas não havia, em muitos casos, outra hipótese que não perseguir essa vida rural. Mas o ser humano era, por muito que nos custe, tal como hoje. E alguma razão haveria de ter.

Quando passar o complexo surgido num cosmopolitismo balofo a uma ditadura paternalista e rural, como a salazarista, as pessoas ainda um dia vão perceber esse sentimento. E o sentimento de liberdade e independência absoluta que ser "landowner" dá. Alas, para tantos deles, tarde demais. Andam mais entretidos em jogar as Liasons Dangereuses da vida (e de algum modo contra mim falo também...).

Mas, voltando a Sousa Tavares, ele sempre percebeu esse sentimento da sua infância, em parte, campesina. E aproveitou-o bem para este romance. É que a coisa, está visto, vem de muito, muito longe. E parece que não vai mudar assim tão cedo, também - que este música vem de algum lado. Desde os Sem-Terra brasileiros à Tara de Scarlett, haverá por aí sempre gente a sonhar com essa vida.



É que da Babilónia, ao contrário do que eles pensam, também está tudo visto e revisto. Há só variações de tema. Talvez o futuro ideal seja conjugar a universalidade e prazer intelectual do Cosmos com essa ruralidade e regularidade na vida, se pudermos. E, com boas estradas, Internet, Tv Cabo ao nosso dispor, há sempre isolamento que se perde, há sempre mundo que se ganha. Estes tempos, malgrado a nossa desenvolvida depressão, são dos melhores que a Humanidade tem vivido, meus caros. Volto ao senhor Flaiano, deste post, que dizia que
quando "l'uomo non ha più freddo, fame e paura è scontento". Aproveitem cada dia. Non si sai mai.