Meu e de muitos bons portugueses, felizmente. Lá porque os Gato Fedorento estao (sabiamente) a fazer uma moratória, nao quer dizer que os esqueçamos. Quando surgiram confesso que nunca lhes alvitrei tanto sucesso. Merecem-no por inteiro. É na sua falta que nos apercebemos mais facilmente de como o seu humor é, de facto, diferente. Para além de original, é intelectualmente superior, digamo-lo sem preconceitos. Estamos perante humor feito por pessoas com uma bagagem cultural bem acima da média, do país e dos humoristas. Daí eu ser um fa sobretudo dos primeiros trabalhos, que tinham mais desses pormenores deliciosos, porque nao se destinavam a um grande publico, e porque havia neles aquele jeito português e juvenil do desenrasca, de grupo de amigos, antes da abundância de meios. Ainda assim, elogio-lhes a transiçao, feita sem demasiadas cedências ao "mainstream". A inteligência está lá, a erudiçao teve que ser um pouco engavetada. Quando Ricardo Araúo Pereira faz um comentário, ao sabor do momento, em que diz que Salazar era pobre porque devia gastar o dinheiro todo em botas, o público ri-se (mais nao seja pelo tom), mas poucos serao os que percebem de onde vem a referência.
Como exemplo, por entre a grande escolha no YouTube, escolhi o "Fórum Filosofia". Definitivamente entre os meus favoritos, nao é uma das primeiras escolhas da legiao de fas. Mas eu acho que traduz muito bem a capacidade de travestir a cultura popular com a erudiçao. Duas culturas totalmente diferentes: o futebol, popular e terreno, e a filosofia, elitista e divina. Deve ser por causa destas misturas que Umberto Eco escreveu o Nome da Rosa em torno do riso e do facto de ser transversal e desconcertante na sociedade. Neste "Forum Filosofia" o espírito do extinto programa "Bancada Central" de Fernando Correia na TSF é brilhantemente capturado, os tiques e os timbres dos participantes reproduzidos na perfeiçao. Esta frase dita por um participante resume aquilo que quero dizer:
"Sou da escola de Frankfurt desde pequenino. Há pessoas que dizem que nao há wermasianos* na Rinchôa, mas isso é mentira."
*Por nao estar versado nas escolas alemas de filosofia (perguntem-me pelas moldavas), desconheço se este é o termo correcto. Nunca se sabe, pode estar um wermasiano a ler este blog.