Para aqueles que começam (há sempre alguém que começa) no seu amor pela Língua Portuguesa, uma mera nota de rodapé (nesta era de ruído é o que se pode arranjar) sobre dois mitos eternos. Lembremo-nos ainda de Zeca Afonso, o último dos trovadores portugueses, herdeiro de um país mítico, para sempre perdido no tempo. E, claro, de Sophia, e a mais pura forma do Português em poema que conheci. Une-os esses amor, misterioso, português, do princípio dos tempos, a uma língua que naturalmente aspira à perfeiçao, porque funde Atlântico e Mediterrâneo.
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
(25 de Abril)
Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
(25 de Abril)
Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro
Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exactidão
Dum longo relatório irrecusável
E pelos rostos iguais ao sol e ao vento
E pela limpidez das tão amadas
Palavras sempre ditas com paixão
Pela cor e pelo peso das palavras
Pelo concreto silêncio limpo das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas
- Pedra rio vento casa
Pranto dia canto alento
Espaço raiz e água
Ó minha pátria e meu centro
Me dói a lua me soluça o mar
E o exílio se inscreve em pleno tempo
(Pátria)