Está o velho gasolineiro,
E ele – é estranho – não me julga
Se eu não tiver dinheiro
No cartão.
Desculpa-me a confusão,
Toma o plástico,
E dá-me o papel na mão
Com tempo.
O velho gasolineiro
Não teme a desconfiança,
A maldade, a desilusão;
Eu sei que ele gostava apenas
Que a vida tivesse menos
Artes de antecipação.
Nem lhe custa o perdoar,
Mas dói-lhe na alma saber
Que outros não costumam deixar
A uma alma distraída,
E às outras, uma saída,
Se Inferno súbito chegar.
Ainda tenho dinheiro
No cartão,
E mais um dia inteiro
Para gastar sem ambição.
Suspeito, dar-me-ia
Tudo mais o meu dinheiro,
Se eu lhe pudesse remendar
Estarmos
Sem saldo de amanhã,
Sem futuro para gastar.
Já não tenho dessa moeda,
Roubaram-me todo o capital,
Já o esqueci –
Não está bem,
Não está mal.
Velho gasolineiro,
Que antes sequer de dinheiro
Com que pagar,
Ofereci tudo o que tinha -
Ninguém o quis aceitar.
Que ter dinheiro no cartão,
E este nosso coração,
Velho gasolineiro,
Vai continuar só moeda
Fora de circulação -
Quer o queiramos,
Quer não.
Pedro Oliveira