terça-feira, agosto 12, 2008

Balada do Bom Cavaquista

que eu sempre fui bom cavaquista
nem é preciso repeti-lo:
anos depois já só se avista:
tanto canário, tanto grilo,

tanto gorgeio, tanto trilo

que de promessas se guarnece:

um mundo e outro, isto e aquilo,

e o povo tem o que merece.


vi engrossar de boys a lista,
vi saltitar mais do que esquilo,

de galho em galho ser artista,

e armar o estado em crocodilo.

voracidade? era do estilo.

economia? ai que arrefece!

vi Portugal vendido ao quilo

e o povo tem o que merece.


vi muito pássaro na pista
já de asa murcha e intranquilo,

já sem alface nem alpista

e já sem grão dentro do silo,

secou a teta e o mamilo,

chegou a hora, chega o stress.

há vários anos que eu refilo,

e o povo tem o que merece.


senhor, na entrada deste asilo,
mordeu-se a isca da benesse

e o povo tem o que merece.


Vasco Graça Moura