segunda-feira, julho 14, 2008

Ética do Trabalho

É engraçado reparar - para quem conheceu outro país - como chegámos a um paradigma, como sociedade, em que as pessoas vivem o trabalho demasiado. Criticam de sobremaneira quem não trabalha, fazem sacrifícios pessoais que julgam imensos (e eu não o estou a negar) pelo seu trabalho, pensam no trabalho.

Mas, na realidade, se formos ao pormenor, as pessoas até trabalham, na sua maioria, menos que os seus antepassados. E, sobretudo, têm muito menor prazer naquilo que fazem. O trabalho tornou-se maquinal, mero ganha-pão, fonte do precioso dinheiro.

A questão essencial é que aumentaram exponencialmente as opções do não-trabalho, do lazer. É verdade que já antes quem não queria trabalhar se divertia, e a frase de "***** e vinho verde" (passe a obscenidade) vem de longe, muito longe. A questão é que as pessoas têm muito mais vidas de sonho que não estão a viver.

Não é só uma questão de jogar à bola, andar no engate, comer e beber até não poder mais. É ser isto ou aquilo profissional e socialmente (a tal ansiedade do 'status'), viver algures, ir àqueles sítios, conhecer aquelas pessoas, ter aquelas experiências.

Há demasiadas vidas oníricas que passam ao lado. E isso gera frustração. A frustração torna o trabalho mais maquinal, mera fonte do dinheiro, que permite a bissectriz a essas vidas de sonho. E assim o trabalho perde realização pessoal e, claro, perde qualidade. Ninguém ama mais aquilo que faz, antes o tolera para perseguir aquilo que ama, ou que pensa que ama.