domingo, julho 20, 2008

Conhece as Pedras da Calçada - Conhece o Teu País

Ainda a propósito da tal 'Obrigação de Saber', pergunto-me se essa será, na nossa sociedade intelectualizada (mas pouco intelectual, por vezes), a derradeira moralidade. Quer dizer, uma moralidade pela sexualidade, neste 'day and age' já não faz efeito. Durante muito tempo o tentou a Igreja Católica. Se pegarmos na obra de cada qual... bom, numa sociedade de 'showbiz', que glorifica 'Big Brothers' e Cirstianos Ronaldos (leia-se êxitos instantâneos), acho difícil. Depois, há muita gente, demasiada, que se sabe ou suspeita fazer má obra, sem por isso ter o mínimo castigo (houve em tempos uma coisa de Justiça, mas deve ser um mito).

Portanto, o comportamento em sociedade das pessoas não é sujeito ao juízo moral devido. É uma coisa do nosso tempo, em termos de regressão da sociedade, mas também decorre da própria complexidade que se ajuntou a essa sociedade. Se antes um ladrão roubava um pão, e era óbvio, hoje desvia dinheiro do Estado - e ninguém o detecta.

Podemos considerar o aspecto físico, e a riqueza pessoal. Mas esse 'capital pessoal', nas várias formas, não é verdadeiramente, uma questão sujeita à moral. Uma pessoa pode ser extremamente rica ou extremamente atraente sem para isso fazer o menor esforço. Sem ter mérito ou culpa, portanto. E a questão da moral anda toda à volta do mérito e da culpa.

Talvez reste a 'obrigação de saber'. 'Eu não o posso recriminar por isto, ou aquilo, ou aqueloutro (demasiados telhados de vidro por aí), mas espera... ele tinha a obrigação de saber isto'. Saber=bom=mérito. Não saber=mau=culpa. E, como sempre em Portugal, a moral é aproveitada para o 'bota-abaixo', mais do que para o elogio. Quer isto dizer que muito mais vezes o mérito passa sem elogio que a culpa sem uma recriminação.

O problema, realmente, está na difusão do que se tem, realmente que 'saber', e na avareza com que o conhecimento fundamental é transmitido... É que há muitas lacunas onde tropeçar. É como se determinado corpo de conhecimento fosse a típica calçada portuguesa. Parece simples, e bem bonita. Suave, convidativa. Mas... não convém a ninguém entusiasmar-se a andar por ela. Não correr, não pensar que se é 'o maior'... Há sempre uma pedra solta a amandar ao chão quem gosta de tentar correr por aí.

Da mesma forma, por mais consistente que seja o domínio de um tema, há sempre quem tenha um facto solto para com um 'obrigação de saber' (tentar...) amandar-nos ao chão. E esse é um problema, sobretudo, para a juventude. É o paradigma da 'obscenidade do erro', no extremo oposto do 'nacional-porreirismo'. São como dois afluentes, vindos de direcções diametralmente opostas, a desaguar num mesmo rio. E às vezes as pessoas jovens basculam de ambiente para outro, como joguetes dessas diferentes 'ordem das coisas'.