quarta-feira, abril 16, 2008

Sol Na Eira e Chuva No Nabal

Explicava hoje a duas amigas, como que traindo a minha equipa (talvez esteja profundamente desiludido com essa equipa), os segredos dos "homens". Coisas simples, de facto. Vejam lá se não há uma, mesmo se minúscula, concordância vossa face a esta descrição.

Os homens andam todos - todos - invariavelmente à procura de uma coisa somente: sol na eira e chuva no nabal. A espaços ouvem do falhanço de mais um em conseguí-lo. "Ridículo". "Ele devia saber que aquilo não era possível". E riem-se entre eles da desfaçatez do outro. "Sol na eira, ainda vá que não vá. Para que é que ele também foi querer chuva no nabal, senhores?". E os outros vão buscar de novo a imperial em frente para dizer: "É verdade". "Que estupidez". Abanam a cabeça. "Ai, ai..." Um deles exala um suspiro para não denunciar aquilo em que realmente pensa. Aquilo em que todos eles, ali, àquela mesa, pensam, malgrado o que dizem. Pensam simplesmente em conseguir para si mesmos, justamente, sol na eira e chuva no nabal.

O outro foi tolo de facto - mas pela maneira como calculou mal a coisa. "Que otário...". E fica como lição. Pensam nela a cada gole de cerveja enquanto revêm o seu próprio plano. Verificam se é preciso corrigir algo na própria rota ("cada um sabe de si..."). "Realmente... podia estar tão bem, foi logo querer tudo", diz outro, enquanto pensa em tudo para si. Enquanto antevê o seu sol na eira, a sua chuva no nabal.

E de que serve isso ao fim da vida, feitas as contas? De pouco, valha a verdade. "Traí-la e ela nunca descobriu", "Roubei e eles nunca descobriram", "Safei-me e ninguém suspeitou". E com quem se partilha isso? E o que é que se contrói com isso? E que raio de uso do tempo de vida na Terra é esse?

"É verdade - eu consegui sol na eira e chuva no nabal. Eu! Sozinho", dizem para si mesmos, e a si mesmos dão valor. São eles o oásis no deserto. Sem perceber que não são, realmente, oásis no meio do deserto - são só deserto em torno de um oásis.