quarta-feira, abril 16, 2008

Da Mentira, Da Privacidade, Da Honestidade

A mentira é um pouco como o dinheiro. Sem alguma, por mais que a critiquemos, não há quem viva. Seja só por cortesia para com o próximo. Seja, no limite, para esconder os nossos desejos mais profundos. Em todo o caso, mentir é uma imposição da sociedade. E quanto a isso não há muito a fazer (com a possível excepção de ser cientista, ou um aristocrata intelectual, mas são tempos maus para isso).

A privacidade surge, no contexto da sociabilidade, como o domínio, as extensões da nossa pessoa sobre o que outrém não tem direito a saber. Não tem direito a saber sobre a nossa intimidade, sobre a nossa riqueza, sobre os nossos sentimentos profundos. E não tem porque no-lo perguntar. Nem nós a ele. Esse é o verdadeiro contrato social.

E porquê esta restição de parte a parte? Simplesmente, para não termos que mentir sobre esses temas. Para podermos manter uma relação honesta com os demais, há certas barreiras que não podem ser ultrapassadas - ou ver-nos-íamos obrigados a mentir, a comprometer toda essa relação honesta, a perder a legitimidade para exigir que os outros sejam honestos connosco.

Sem mentira não há sociedade. Mas sem privacidade não há honestidade.