"Na praia, dois amigos percorrem o areal, pela areia dura, concreta. Os pés, ignorando-o, sao aflorados pelo mar, que refresca. Nao demais - o dia nao é demasiado quente para Agosto. Falam e riem, e continuam falando, o seu olhar desviado somente pelo corpo feminino que passa.
Algum negócio estranho ali se celebra: nao podem olhar ao mesmo tempo para ela(s), quem está mais resguardado deve ceder a vez, nao se deve olhar muito tempo - seria comprometer a vez do amigo. "Às tantas horas" diz um. O outro cessa a conversa, por mais profunda que fosse, e olha, seguindo as regras. Trocam-se as vezes, é feita uma avaliaçao final. Raramente, há alguma euforia inusitada - descoberta de gemas preciosas, que nunca mais aqueles dois verao, menos ainda àquela distância. Passo a passo, riso a riso, sacanice a sacanice, passa-se a manha. Passa-se docemente o Verao.
Nesse momento, exactamente nesse momento, um deles diz somente:
- Às 11h. Muito gira...
Responde o outro, no desassossego de partilhar a descoberta:
- Onde?
- Às 11h.
- De verde?
- Nao, de azul.
- Ah, talvez... Espera. A loirinha?
- Sim.
- Nao, estás enganado.
- Parecia gira.
- Talvez venha a ser. Ainda é muito nova.
À medida que os passos acompanham a conversa, a distância traz a percepçao mais nítida ao primeiro olheiro, e um certo arrependimento:
- Tens razao. Parecia mesmo...
- É, ainda é um bocado nova. Mas olha que quando crescer será gira.
- Pois. Daqui a uns anos já pode, perfeitamente, desprezar-nos.
Há que ter beleza, na idade própria, para desprezar aqueles dois, apesar de tudo. E talvez, sendo a ambos, quem sabe, doa menos. Assim soa, pelo menos, a quem os ouvir rir, ao sol do Verao, no areal duro, concreto.
Lá em cima os corpos estendem-se voluptuosos sobre as toalhas, sobre a areia suave, sem medo do futuro e sem necessidade de caminhar.
O dia está mais quente agora, nao ainda quente demais para Agosto.
Algum negócio estranho ali se celebra: nao podem olhar ao mesmo tempo para ela(s), quem está mais resguardado deve ceder a vez, nao se deve olhar muito tempo - seria comprometer a vez do amigo. "Às tantas horas" diz um. O outro cessa a conversa, por mais profunda que fosse, e olha, seguindo as regras. Trocam-se as vezes, é feita uma avaliaçao final. Raramente, há alguma euforia inusitada - descoberta de gemas preciosas, que nunca mais aqueles dois verao, menos ainda àquela distância. Passo a passo, riso a riso, sacanice a sacanice, passa-se a manha. Passa-se docemente o Verao.
Nesse momento, exactamente nesse momento, um deles diz somente:
- Às 11h. Muito gira...
Responde o outro, no desassossego de partilhar a descoberta:
- Onde?
- Às 11h.
- De verde?
- Nao, de azul.
- Ah, talvez... Espera. A loirinha?
- Sim.
- Nao, estás enganado.
- Parecia gira.
- Talvez venha a ser. Ainda é muito nova.
À medida que os passos acompanham a conversa, a distância traz a percepçao mais nítida ao primeiro olheiro, e um certo arrependimento:
- Tens razao. Parecia mesmo...
- É, ainda é um bocado nova. Mas olha que quando crescer será gira.
- Pois. Daqui a uns anos já pode, perfeitamente, desprezar-nos.
Há que ter beleza, na idade própria, para desprezar aqueles dois, apesar de tudo. E talvez, sendo a ambos, quem sabe, doa menos. Assim soa, pelo menos, a quem os ouvir rir, ao sol do Verao, no areal duro, concreto.
Lá em cima os corpos estendem-se voluptuosos sobre as toalhas, sobre a areia suave, sem medo do futuro e sem necessidade de caminhar.
O dia está mais quente agora, nao ainda quente demais para Agosto.