sexta-feira, dezembro 22, 2006
Impressões de Roma 3
segunda-feira, dezembro 18, 2006
Machinha
"Já tenho uma machinha deles.", disseram-me hoje. Eles os anos, porque purguntara a idade.
Machinha... Machinha: uma mão cheiinha...
sábado, dezembro 16, 2006
To Do Good, Not To Do Well
It reminds me of when I first used to knock on doors as a canvasser and was told if they owned their own home they were Tories.
Choice a Tory word?
Tell that to 50 per cent of heart patients who have exercised it to get swifter operations and help bring cardiac deaths down 16,000 since we came to power.
(...)Choice is not a Tory word.
Choice dependent on wealth; those are the Tory words.
The right to demand the best and refuse the worst and do so not by virtue of your wealth but your equal status as a citizen, that's precisely what the modern Labour Party should stand for."
A ler também o seu discurso no Congresso do Partido em Setembro deste ano.
quinta-feira, dezembro 14, 2006
Impressões de Roma 1
Livros de Roma 1
quarta-feira, dezembro 13, 2006
Impressões de Roma
domingo, dezembro 10, 2006
Pecado Original 6
Eccomi qua
quinta-feira, dezembro 07, 2006
Esclarecimento
quarta-feira, dezembro 06, 2006
Pecado Original 5
A Agenda Necrológica
Durante o Estado Novo, a censura, naquilo que exactamente a definia como moralista, filtrava o boçal, o bizarro*. Havia um bas-fond que a maior parte do país não sabia sequer existir. No grande palco do Estado Novo, a censura foi um alçapão, que nunca se soube estar lá, e que, de repente, se abriu violentamente. Escondeu sempre uma forma de ser português, de ser humano**. Se essa face que ocultou é a regra ou a excepção, é todo um outro debate.
Mal ou bem, a censura permitiu uma plataforma, calando as massas, para o desenvolvimento de temas intelectualmente exigentes, que diríamos hoje eruditos, elitistas, afectos somente à especialidade. Por isso se discutia Ciência, Literatura, Arte, em jornais generalistas, com grande profundidade. As geraçoes de hoje são, claro, indignas dessa herança porque a desconhecem primeiro, e depois porque a não poderiam apreciar. Embora, convenhamos, as geraçoes actuais estejam sujeitas a outras solicitaçoes, o mundo da Imagem que se criou trouxe consigo muitos novos Tântalos, também conhecidos por "consumidores". E o lazer é mais plural, naquele tempo era mais fácil gostar dessas áreas do Saber, amantes caprichosas e exigentes mas sempre intensas. A própria organização social mudou radicalmente, e há algo de excelência intelectual que está inevitavelmente ligado a uma sociedade paternalista, gostemos ou não.
No entanto, consideradas as diferenças, chegamos ainda assim à conclusão de que os nossos media estão cheios de pseudo-factos. De pseudo-protagonistas, de ruído. Não se compadecem dessa História, Ciência, Arte. Não há tempo para mais que a tradução dos mesmos factóides internacionais. Só esporádicamente há uma subida de nível cultural na situação concreta da morte de alguém famoso. Aí sim, surgem protagonistas, histórias, perspectivas, desenterram-se grandezas e guerrilhas. Limpa-se o pó aos móveis da sala nobre da nossa história.
Há, assim, uma agenda necrológica a dominar os media. Está aí, perante os nossos olhos, uma cadência de marcos cronológicos que estão centrados na morte de um personagem. O último foi Cesariny. Pergunto-me quem virá a seguir.
*veja-se a série que Pacheco Pereira tem vindo a publicar no Abrupto.
**leia-se Fernando Dacosta: "Máscaras de Salazar" e "Nascido no Estado Novo".
domingo, dezembro 03, 2006
sábado, dezembro 02, 2006
sexta-feira, dezembro 01, 2006
Best Of
Visto e revisto, mas nao posso deixar de o incluir no blog, em dedicatória ao(s) companheiro(s) ziba(s) de laboratório, desse extenuante 3º ano.
quinta-feira, novembro 30, 2006
Súplica
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
P.s. À falta de disponibilidade para o desenvolvimento das minhas ideias deixo aqui uma súplica, neste caso a súplica pelo tempo que não tenho.
domingo, novembro 26, 2006
E o Tempo Parou
O Grande Complexo da Política Portuguesa
Ready, Aim... Steady
Tempestades...
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui?"
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada
O que mais faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismo, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
José Régio [Vila do Conde, 1901-1969]
sexta-feira, novembro 24, 2006
quinta-feira, novembro 23, 2006
E Recordar é Viver
quarta-feira, novembro 22, 2006
Pequenos grandes actos de coragem
terça-feira, novembro 21, 2006
segunda-feira, novembro 20, 2006
O Eterno Esquecimento
Aqui e ali, em artigos, costumo ler referências à teoria do Eterno Retorno. Investiguei: a sua tese é a da natureza cíclica da História. A História seria doentiamente cíclica porque repetimos todas as situações e sentimentos humanos, desde os primórdios; os elementos basilares do ser humano não mudaram nem mudarão.
Embora algo nela soe fundamentalmente verdadeiro, acho que há mais no ser humano para além da sociedade do Antigo Testamento. A diferença individual, genética, e a evolução da sociedade são factores igualmente importantes que os nossos desejos primitivos. Mas reconheço que é para mim uma aventura tentar abordar esse tema, e tento registar apenas o essencial.
Concordo, sobretudo, que é demasiado humana a assumpção de que vamos ser algo que o mundo nunca viu, e ter mais coragem, mais inteligência do que os nossos antepassados. Pensamos neles (se chegarmos a pensar) mergulhados num profundo obscurantismo. Há um desrespeito generalizado pelo Passado, e nunca se pode compreender o que se não respeita. Só não sei se esse desrepeito é intrínseco à natureza humana, ou se estará antes relacionado com a evolução dos tempos.
Choca-me sobretudo o vil esquecimento da Medicina, e os esforços que os intérpretes dessa arte fizeram ao longo da História para que nós mais facilmente a pudéssemos esquecer. Damo-nos o luxo de viver em função do imediato, porque autênticos heróis devotaram a sua vida à anestesia, assépssia, vacinação, transplantação, etc. Quantas vezes nos lembramos do sofrimento humano evitado? Quantas vezes nos lembramos dos olhares de desespero e angústia, dos gritos e gemidos pela noite, da indignidade? Pois é. Longe da vista, longe do coração. E a vista lá se vai fixando naquele carro, naquela mulher, naquela oportunidade de enriquecer, naquela experiência ousada.
Não só esquecida, a Medicina tem vindo a ser instrumentalizada e mesmo traída pelos seus intérpretes. Simplesmente porque quem a pratica são... seres humanos. E como o mercado, mais do que o sonho, comanda a vida, nem se lhes é exigido que tenham uma cultura humana compatível com tão especial mester. Se a cirurgia plástica evolui mais que a cura para a malária e um cirurgião não o é sem um Porsche, é pena, mas é coisa humana.
Sempre achei que os verdadeiros médicos eram, como Ernesto Roma, príncipes do povo. Emergem pelo bem comum, e trabalham pela sua comunidade, sem maior prazer na vida que esse. São povo e não o são ao mesmo tempo. E o povo inequívoco também sempre lhes foi grato, e deles guardava memória.
Talvez esse povo já não exista. Ainda bem, porque isso significa, para usar a popular expressão, que subimos de vida. Agora já a podemos carregar de aspirações que nos elevam ou deprimem, consoante as cumpramos ou não. Mas talvez por já não haver esse povo, menos sejam aqueles que se lhe dedicam a vida. Podíamos ao menos lembrar os que o fizeram no passado.
Vox Popoli, Vox Dei: Piratage
Na aldeia, diz o bom Ti Jaquim: "Naquele tempo nao havia essa piratage que há praí agora, nao". Terá razao, ou todos vemos com benevolência o nosso passado?
Nota: por uma questao de rigor, referir somente que o bom do Ti Jaquim tinha já tomado um ou dois "comprimidos" (a que na gíria urbana nos referiríamos prosaicamente como "copos de vinho")
domingo, novembro 19, 2006
Quem nasceu para lagartixa, nunca chega a jacaré*
Foi a enterrar segunda-feira no Porto, o seu caixao coberto com a bandeira do Boavista, clube em que também havia jogado. Do Benfica nao houve bandeira porque Sílvio Cervan, o seu enviado, dela se esqueceu... Pergunto eu: Quem é Vieira? Um presidente digno do Benfica ou um moralista de 3 vinténs, sem conteúdo que suporte as afirmaçoes chocantes que faz? Peço desculpa pelo ênfase da segunda opçao, eu nunca tive dúvidas... Bem pode ele exigir aos jogadores do Benfica que nao joguem como "rapazinhos". Tem autoridade moral para o fazer... Haja algum sócio benfiquista que se revolte, por favor! Já nem falo do Sporting, que acho melhor na gestao da sua memória, mas por quais dirigentes também me nao compremeto. Digo simplesmente que com Pinto da Costa nunca tal aconteceria. É bem verdade o ditado: "Quem nasceu para lagartixa, nunca chega a jacaré".
*para os iluminados leitores da Sábado, sim, este é o título da crónica de Pacheco Pereira. O seu a seu dono.
sexta-feira, novembro 17, 2006
Hoje vi o mundo
Pessoalmente sou mais contra do que a favor, mas existem muitas condicionantes, e como tal não tenho uma opinião absoluta que se possa afirmar como íntegra, inabalável e irrefutável, perante factos e ideias externos que quase todos os dias colocam as minhas à prova. Especialmente quando são as minhas próprias ideias que colocam as minhas teses à prova, estas têm de ser alvo de mais reflexão, sabedoria e experiência que só o tempo nos proporciona, e o crescimento como indivíduos que somos.
Mas não vou escrever sobre o indivíduo e todas as múltiplas vertentes do seu carácter e personalidade, vou escrever sobre "um indivíduo" que para mim tomou uma das atitudes mais bárbaras e sanguinárias, precipito me a dizer, que o estado de democracia permite: o do regozijo e celebração da morte de um indivíduo.
Hoje vi George W. Bush fazer disso um motivo de manifestação pública num congresso, cujo ambiente de festejo e congratulação, era contagioso a todos os que ouviam o discurso eleitoralista que Bush proferia. Cada palavra minimamente pensada num discurso totalmente virado para despertar o entusiasmo numa plateia que celebrando efusivamente com palmas e toadas bárbaras e primitivas se iam esquecendo da política miserável do seu presidente camuflando temporariamente o que acabaria por suceder mais tarde, a vitória dos democratas, tanto no senado como na câmara dos representantes.
Hoje vi o líder de uma grande nação aproximar-se mais um passo na direcção da inconsciência e da animalidade, do terror subjacente à expressão " afinal quem é que manda aqui ?" celebrando a morte de um homem, que merecendo ou não, não é essa a questão de que aqui se trata. Entenda se aqui claramente que não estou a discutir a legitimidade nem o quanto esta sentença é, ou não adequada nos cânones da justiça iraquiana, mundial, e humana, pois para quem comete crimes da dimensão bárbara de que Saddam é acusado, não há pena possível nas dimensões do humano a aplicar por forma a possibilitar a rebilitação de alguém e sua consequente re-inserção na sociedade. Não há, ponto.
Acho simplesmente, que um indivíduo que se encontra na posição que ocupa o Presidente dos Estados Unidos, não deveria dar a uma nação eleitora, que toma o líder do seu país como um modelo (a seguir ou não) estas mostras completamente primitivas "do ser mais forte", da mostra de poder exacerbado por uma posição e um status hierarquicamente mais elevado, comparável a uma cadeia alimentar em que todos os outros ficam abaixo, submissos à hegemonia dos mais fortes.
Abrir uma janela destas, é escancarar totalmente uma porta, sem precedentes a um mundo muito pior sem carácter humanitário onde ele é mais preciso, no respeito pela vida e morte dos indivíduos, e repito mais uma vez, quer estes o mereçam ou não, à luz da justiça óbviamente. Estou só a tentar desenvolver aqui uma ideia que é pouco comum nos dias de egoísmo que se vivem actualmente, a de que nestas questões que implicam a vida e a morte não somos ninguém para julgar, e quanto a mim, o facto que é condenável em toda esta situação, ainda pior que o valor atribuído a esta condenação (repito mais uma vez, justa ou não), é a celebração desse facto.
Os Estados Unidos marcaram a sua posição neste conflito estratégico que decorreu sobre a égide de uma premissa falsa (a do pseudo armamento químico do Iraque), mais uma questão à qual não me vou referir sequer, tal é o transtorno que me causa sequer pensar que legitimidade e autoridade terá um indivíduo que usa um argumento falso para criar uma guerra, com todas as consequências que esse facto envolve, de se congratular com a morte de outro homem.
"What goes around comes around", they say, mas quando um dos homens mais poderosos do planeta, atravessa a ténue linha que nos torna humanos e deambula no mundo vingatório da manipulação e abuso de poderes, nada impede as mentes mais influenciáveis e moldáveis de seguirem estes comportamentos da falta de noção humanística da realidade.
Não tenho absolutamente nada contra os Estados Unidos (a não serem os factos que já referi anteriormente), entenda-se e sinceramente acredito que o mundo seria um local mais hostil e conturbado, sem a sua posição de respeito hegemónico, invariavelmente decorrente de décadas de história que só são necessárias para um mundo melhor se foram para proporcionar a liberdade, a quem esta não se constitui como um direito essencial nos dias que correm. Tenho apenas problemas e medo em relação a certas políticas manipulatórias de um nível barato e bacoco, de manipulação e alteração de factos, informação e documentação afim de interesses próprios, e sem querer entrar numa toada conspiraccionista, acho que os caminhos actuais de política externa dos estados unidos se encontram de alguma maneira apontados nessa direcção.
Não vou sequer referenciar acontecimentos actuais, pois estes estão à luz de qualquer pessoa que se informe minimamente e se mostre interesse nestas questões da actualidade.
Estados Unidos: sim. Políticas totalitárias, manipulatórias e imoralismos: não, obrigado.
Hoje vi o mundo afastar se um passo mais da moralidade e bom senso.
Hoje vi o mundo ...
Obrigado
Muito sinceramente e remetendo o assunto ao seu excelente texto travar/respirar fundo, é incrível como me revejo mais vezes do que as que seriam desejáveis nas suas palavras caro amigo, especialmente em dias conturbados de depressão e ansiedade proporcionada pelo stress de dar 150% de mim em todas as situações, e o consequente medo de ser completamente absorvido pelas circunstâncias, não me sobrando espaço para a generosidade genuína de ter e dar sem esperar retorno, de não me sobrar espaço para um dos últimos sentimentos verdadeiramente altruístas do ser humano, e que tão necessário é actualmente, não só a quem é alvo, mas também a quem o pratica.
quinta-feira, novembro 16, 2006
As minhas aulas de conduçao
Metro
Quilómetros e quilómetros de espaço
Comprimido
Por entre olhares desviados
(Corpos cansados...),
Que não podem buscar senão
Humanidade
Por entre o fluxo do vazio,
Perante a escuridão lá fora
E cá dentro.
Nossa é a luz
Que ilumina o caminho.
Mas será, na verdade, nossa?
Não... Nada é nosso,
Mais do que o saber estar sozinho.
Assim viajamos nós,
Quilómetros e quilómetros de espaço,
Interdito
À mais pequena emoção.
E empurramos pensamentos (risos, cantos, histórias, almas)
Por entre falsas calmas
Até à próxima estação.
Pedro Oliveira
Vozes do Passado, Ecos no Presente
De um só rosto e de uma fé,
De antes quebrar que volver,
Outra coisa pode ser,
Mas da Corte homem não é.
[...]
"Carta a El-Rei D. João III", Sá de Miranda (Coimbra, 1481-1558)
sábado, novembro 11, 2006
Travar/Respirar Fundo
Ter 22 anos é sempre difícil, e talvez sempre tenhamos a necessidade de dizer que é mais difícil quando somos nós. Afinal, o mundo nasceu connosco, e não percebemos porque raio não se adapta àquilo que intuitivamente cremos que ele devia ser.
Mas ter hoje 22 anos é difícil. Para além das barreiras e maldições de Tântalo da idade, há incertezas que nos consomem. Estão sempre lá, “in the back of the mind”. Será que terei trabalho? Será que serei feliz no meu trabalho? Sou de esquerda ou de direita? O que é exactamente o capitalismo?, e até mesmo: Será que vai haver uma guerra para a minha geração?. Contudo, a maior parte das vezes, felizmente, continua a ser: “Muito gira... ficava mesmo bem ao meu lado".
Quando por vezes me concedo pensar nessas angústias, e n
O Zé era uma figura míticia da aldeia. Já morreu, coitado, nem o cheguei a conhecer. Mas tantas vezes o meu pai contou as suas anedotas que sinto que as vivi também. O Zé, na verdade, era conhecido como... Zé da Merda. Segundo os relatos, o seu emprego da palavra profana era constante: “Já fui fazer a m.... que me pediste, Comprei a m.... da enxada por tanto, Fui à m.... da feira”, de tal forma que a trivializava e domesticava. O seu significado perjorativo deixava de estar associado ao uso para depender do tom. Uma vez, após o 25 de Abril, numa sessão de esclarecimento do povo, ouvia aqueles jovens a falar de democracia e democratas, devidamente sentado na plateia. A certa altura, tanto a palavra balançava de frase em frase, que, ansioso, se levantou e disse: “Mas então o que é que é essa merda dos Mocratas?”. O riso foi geral, malgrado a sua sinceridade.
Mas o Zé vem a propósito não dessa, mas de outra história. O Zé era um herói da aldeia, não pelo registo cómico, mas porque sabia guiar em Lisboa. E isso de guiar em Lisboa era coisa só para alguns, predestinados. Ainda hoje lá conheço pessoas, hábeis a conduzir, que nunca se aventuraram no tráfego lisboeta. Mas o Zé era generoso, um dia partilhou o seu segredo: “É assim: a mim disseram-me que os gajos lá, se tu estiveres parado, quem te bater é que tem a culpa. Então, quando me vejo apertado, travo aquela merda a fundo. Se eles baterem a culpa é deles!”
Às vezes, quando me sinto confundido pelo mundano, e não sei bem qual dos lados que me puxa tem razão, lembro-me das palavras do Zé. Travo a fundo.
Se eles baterem a culpa é deles.