quinta-feira, janeiro 15, 2009

Back In Business

Fui ali abaixo comprar o jornal à papelaria que poderia haver no rés-do-chão do meu prédio. Disse-me o sr. Albano, quando eu estava a pagar o Público: "Vem aí o Fim do Mundo". Ainda pensei se seria alguma nova série de televisão. Mas depois percebi. "Então isso quer dizer que não há 'Público' amanhã?". Responde o sr. Albano: "Goze, goze, que vocês é que cá ficam. Eu já tenho 63 anos, já gozei muito, comi que me fartei, e, sem a minha mulher saber, andei amancebado com duas mulatas e uma ucraniana. Vocês é que se vão lixar." Eu já não estava a apreciar a conversa. "Ó sr. Albano, mas o senhor, desculpe lá, se o mundo estiver para acabar de que serve também o senhor ter gozado? Quer dizer, quem é que sabe disso? Eu não, porque não estarei cá. Não vou ser eu a dizer na minha hora: 'Eh pá. Quem me dera ter gozado como o sr. Albano, com duas mulatas e uma ucraniana. Aquilo é que foi viver'. Já não vou ter um filho para lhe dizer: 'Jaquim Júlio, não faças esta vida estúpida do teu pai. Vai mas é curtir como fez a seu tempo o sr. Albano.' De que serve ao futuro todo o gozo que teve o sr. Albano? Vai deixar tanto lastro o seu nome como ali o do Pintas." O Pintas é o rafeiro do bairro, um simpático cão amarelo, de uma cor amarela desmaiada pelo muito coçar em que se entretem, por ociosidade.

O Sr. Albano ficou mais chateado do que daquela vez em que eu disse que o Benfica era beneficiado pelos árbitros. Se eu visse a ucraniana que não falava assim e não sei que mais. "Você não vê", disse ele, que "se amanhã morrermos os dois, eu vou de barriga cheia?". Hum... "Hum... Mas ouça lá, embora isso possa ser verdade, desaparecendo você, o que é que deixa na Terra? Quem é que vai dizer: 'aquele indivíduo não só existiu, mas gozou que se fartou'? Quer dizer, que obra ou filhos deixa você?". "Uma filha.". Ah, ah! "Bom, pelos vistos não deixa, não é? Quer dizer, o Fim do Mundo, quando vem, é para todos, não?" Não gostei muito da expressão com que o sr. Albano me fitou naquele momento. Suspeitei que já não me ia calhar o próximo fascículo de biografias de Grandes Carpinteiros com o 24 horas. Mas tudo bem, já tenho a do Gepetto (é por isso que mais vale prevenir).

Algo embaraçado, lá me fui embora. Era para lhe perguntar pelo novo fascículo da Agostini e pelo sentido da Vida, mas achei melhor ficar para outro dia. Isto, claro, na eventualidade de haver um outro dia.

Mas a verdade é realmente essa. A tal coisa portuguesa de curtirmos mais a vida, só faz sentido se... ainda houver mundo. Se os tipos acabarem com ele, por terrorismos, guerras ou crises financeiras, infelizmente, ninguém vai comentar o meu recorde de 322 croquetes em dia e meio. A modos que a coisa, vá por onde vá, nos lixa sempre. Ah e tal, vem aí o fim do mundo e fulmina-nos todos. E pah, se for mesmo todos, todos, é desagradável. Porque se somos nós e aqueles aos que fomos mais espertos, então... diacho - volta tudo à estaca zero.

Foi aí que eu senti que o que o sr. Albano, na verdade, me queria dizer, era que devia manter o meu blog como estava. E isso, claro, significa deixar o 'Rústicos Epicuristas', mas lá terá que ser. Eis pois, o fim da mais curta moratória anual de sempre - nomeadamente porque durou somente um terço do mês.

Enganei-vos bem, não foi?