Somos filhos dos anos 90. Eu, particularmente, aprecio a década, algum positivismo e idealismo tecnológico. Nada é melhor exemplo do 'salto em frente' que constituiu que o próprio PC, a partir do qual vocês lêem estas linhas. O PC foi, e continua a ser, uma revolução a todos os níveis. É a nau que nos permite explorar o oceano da web. Agora viajamos quando queremos, sozinhos. Antes, nas agruras de um país periférico e isolado, era bem diferente.
Nós fomos a geração que teve essa massa mágica nas mãos. Era só nossa. Os nossos pais nada sabiam desse mundo dos 'computadores'. Eramos nós que lhes escrevíamos documentos, cartas, enviávamos um mail - e assim justificávamos o próprio computador. O poder estava nas nossas mãos. Um dia a coisa começou a escapar-nos. De repente, eles já conseguiam fazer as coisas mais simples. E a própria evolução tecnológica os ajudou muitíssimo, mercê da sua deriva 'user-friendly', da estupidificação de tudo.
Até ao ponto em que o PC começou a ter elementos de estilo, de imagem, de apelo estético (vejam-se os Apple, por exemplo). Já tinha muito menos raciocínio, dificuldade, areia na engrenagem. Já era só reduto dos 'especialistas'. Nós só víamos o preço, a marca, o écran brilhante. Era um produto, já não uma paixão. E os adultos começaram a entrar por essa paixão adentro. Como se atreveram?...
A web foi dos melhores exemplos na história da Humanidade como a força da juventude, da novidade, consegue confundir - por completo - o mundo adulto. Esse é um exemplo que brilha a ouro na História.
Eu não trocava ter pertencido à geração pioneira da Web por nada. Gostei muito da minha plácida década de 90' também por causa dela. E nem era um grande especialista. Mas a minha curiosidade nunca teve limites. E agradeço à Web por me ter ajudado a libertá-la. Como uma vez ouvi dizer a Pacheco Pereira numa conferencia sobre blogs que me ficou na memória: a Web é a 'biblioteca da Humanidade' de que falava Jorge Luís Borges, fascinado. Tem tudo: do mais excelso ao mais bizarro, que produz a alma humana. Está cheia de partículas atómicas numa vida, como de lixo. A Web somos nós.